Estamos numa guerra ou não? A meu ver, sem dúvida nos encontramos numa guerra. E como uma guerra, temos uma enorme indignação de como chegamos a isto, também sentimos medo da perda de nossas vidas e de quem amamos, chegamos ao pânico de olhar para a frente e não enxergar mais empregos, oportunidades, empresas, desenvolvimento, sonhos e futuro. É uma guerra. Já vivemos outras guerras. Até mais bestiais que essa, aonde nós mesmos nos matamos e não um vírus. O homem sendo o lobo do homem. Mas a história ensina e traz lições. O que podemos tirar de aprendizado de outras guerras?
Creio que isso seja oportuno trazer para a pauta do atual momento. Claro que podemos discorrer sobre várias matérias do aprendizado das guerras, seja no campo da estratégia, gestão, medicina, indústria, logística, política, diplomacia, etc. Não tenho essa pretensão. Gostaria de me focar, de forma singela, em um aspecto que creio, podemos fazer uma reflexão. No meio de uma guerra, como a primeira (acabamos de ter nos cinemas o excelente filme 1917), o que se passava na mente das pessoas naquele momento? Digo pequenos empresários, pais, professores, pessoas comuns, como nós. Imaginem que vivemos na Europa no dia 28 de agosto de 1914 e estamos em guerra há trinta dias. Alguns pensam que logo terminará o conflito. Outros acreditam que durará anos e tudo acabará em sangue nas trincheiras. Como decidir o que fazer no dia seguinte? Pois tudo depende de como imaginamos que tudo vai terminar, se vai e quando. Pago o que devo ou não? Vou trabalhar ou não? Meu casamento está marcado. Caso ou não? Dispenso meus empregados do meu pequeno comércio ou não? Saio da minha casa ou não? Meu filho vai nascer hoje. Choro ou me alegro? Difícil. Terrível eu diria. Mas, todos viveram isso até o dia 11 de novembro de 1918, quando a guerra terminou. Creio que os contemporâneos da 1ª. e 2ª. guerras mundiais viveram momentos de absoluta entrega ao desânimo e desesperança, não sem razão. Mas o que pensar então dos que vivenciaram a Guerra dos 100 anos (na verdade 116 anos, de 1377 a 1453) entre França e Inglaterra? Sim, estamos falando de quatro gerações que nasceram, viveram e morreram durante a guerra. Como isso pode acontecer? Mesmo com seus países em guerra, com mortes e nenhuma segurança que estariam vivos no dia seguinte, os ingleses e franceses daquele período resolveram continuar, ir em frente! E com todas as dificuldades (e mais guerras depois, pois ambas foram duas das nações protagonistas das duas guerras mundiais), França e Inglaterra sobreviveram e ainda tem um grande espaço na geopolítica mundial.
Mas se cada pessoa daquela época, por um medo justificado de não existir no dia seguinte, deixasse de empreender, de fazer trocas comerciais, de trabalhar, de casa, de rezar, de ter filhos? Creio que hoje não estaríamos mais falando de ingleses e franceses fora dos livros de história. Vivemos uma guerra hoje. Nosso inimigo comum, o coronavírus, está nos deixando sitiados, doentes, angustiados e temerosos. Mas não pode nos tirar a coragem! Sim, façamos o que estiver ao nosso alcance fazer, mas não deixemos também de agir hoje com a certeza de que teremos o dia seguinte. Essa guerra vai terminar, seja em semanas, meses ou até alguns poucos anos. Mas não vai durar cem anos. E temos hoje duas coisas fantásticas ao nosso favor: não estamos em guerra uns contra os outros e nunca tivemos tanta chance de provar que tudo o que desenvolvemos em tecnologia e medicina, foi para bem. Se todos pararmos neste momento de ter projetos e sonhos, e de agir hoje para que eles se concretizem amanhã, seremos vencidos, não por um vírus invisível, mas por nossa falta de coragem!
MARX GABRIEL
É o CEO da MB Consultoria, Conselheiro de Administração de empresas CCA+ pelo IBCG e autor do livro "Direto ao Ponto", publicado pela editora Alta Books.
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