Dívida & Riqueza: A Gratidão que Enriquece
- Marx Gabriel
- 13 de abr.
- 3 min de leitura

Você conhece alguma dívida que lhe deixa mais rico?
Pois é, pode parecer insanidade… mas não é.
Quando você contribui de alguma forma para a minha vida e o meu crescimento como ser humano — em qualquer aspecto — eu lhe devo.
Não importa nem se teve a intenção. A dívida foi contraída.
E, claro, se fez isso por mim de forma consciente e intencional, eu lhe devo ainda mais.
Mas o que eu lhe devo?
Gratidão.
O valor da gratidão
A palavra gratidão vem do latim gratus (“agradecido” ou “grato”) e gratia (“graça”).
Quando o ser humano se relaciona com o mundo por meio dessa virtude, amplia sua compreensão da vida.
E quem pensa que oferecer gratidão tem a ver com o outro, ainda não compreendeu a dinâmica da existência: só se oferece aquilo que se tem.
Não há como dar a outro o que não se carrega dentro de si.
“A gratidão não é apenas a maior de todas as virtudes. Ela é a mãe de todas as outras.”— Cícero (106 a.C.)
Virtudes
Você acha possível haver humildade num coração sem gratidão?
Ou simplicidade? Generosidade? Justiça? Coragem?
Aristóteles nos ensina que a virtude (aretê) é uma disposição de caráter adquirida pela prática — sempre no equilíbrio entre dois extremos.
Por exemplo: a coragem é o meio-termo entre a temeridade (excesso) e a covardia (falta).
Agir com virtude é escolher com sabedoria e caminhar rumo à eudaimonia — o florescimento humano.
Os estoicos, por sua vez, viam a virtude como o único bem verdadeiro e suficiente para a felicidade.
Viver de acordo com a natureza, ou seja, com a razão, era o caminho. Sabedoria, Justiça, Coragem e Temperança formavam os pilares dessa vida.
Embora com visões distintas, todos os grandes filósofos concordavam em algo essencial:
as virtudes são a base do caráter humano e o caminho para uma vida ética e plena.
A riqueza da interdependência
Observe as pessoas que você admira por sua integridade, coragem, justiça ou bondade.
O que todas elas têm em comum?
Gratidão.
São pessoas que reconhecem o valor dos outros em sua jornada e expressam isso — com gestos, palavras ou atitudes.
Imagine dizer a alguém com quem conviveu por anos:
“Eu tenho uma dívida de gratidão com você.”
E ouvir em troca:
“Obrigado. Eu também tenho uma dívida de gratidão contigo.”
Essas dívidas enriquecem.
Fortalecem os laços. Moldam o caráter. Constroem pontes.
Gratidão é a moeda mais valiosa da ética.
Por outro lado, quem diz:
“Não lhe devo nada. Você também não me deve nada.”
— ainda não despertou para a interdependência moral que sustenta o ciclo da vida.
Falta-lhe gratidão.
Falta-lhe riqueza interior.
O risco da era líquida
Zygmunt Bauman, em Tempos Líquidos, descreve uma era fluida, instável, imediatista.
Vivemos a era da conexão digital, mas do vazio relacional.
Formatos mudam, aceleram, impressionam.
Mas o conteúdo — a virtude — está se esvaindo.
“Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio.”— Immanuel Kant
Sem virtudes, perdemos a bússola.
Perdemos a humanidade.
Marx Alexandre Corrêa Gabriel é consultor de empresas.
Luta todos os dias, com todos os defeitos que carrega, para que — ao se barbear — consiga ver um homem olhando de volta para ele no espelho.
Esse homem só continua existindo porque reconhece as dívidas que o enriqueceram.
E todas elas têm nome: gratidão.
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