Trump, tarifas e a nova fase da história: o início da desglobalização
- Marx Gabriel
- 9 de abr.
- 3 min de leitura
Atualizado: 10 de abr.

Muitos dizem que não é possível compreender as razões que levaram Trump a impor tarifas globais, tampouco avaliar as consequências de seu ato.
Eu discordo. É possível, sim.
Para isso, é essencial conhecer a história e seus ciclos.
O que ocorre agora não é uma “briga de Trump contra o livre-mercado”, como vejo nove entre dez analistas políticos afirmarem. A curto prazo, é claro que Trump, ao “colocar o bode na sala”, forçar os demais atores globais a sentarem à mesa com os EUA — não apenas para discutir tarifas, mas para redefinir as regras do jogo, especialmente no que diz respeito ao dólar como lastro das reservas internacionais. Mas, diferente do que ocorre desde 1971, quando o ouro deixou de ter esse papel, o momento agora exige regras muito claras.
Contudo, não se trata apenas disso.
Estamos diante do início de uma nova fase da história mundial, dentro da era pós-moderna.
Nessa fase, os Estados Nacionais voltam a assumir protagonismo. Há um movimento de reindustrialização, de priorização do ambiente doméstico, de recuperação das cadeias produtivas locais, e de resgate de valores culturais e políticos próprios. Rompe-se, portanto, o ciclo de interdependência forçada dos Estados a um modelo globalizado, sustentado por endividamentos bilaterais e concessões financeiras desalinhadas dos interesses soberanos — tudo em nome da solvência.
Sim, a globalização trouxe muitos benefícios: facilitou o acesso a bens e serviços em escala planetária, reduziu barreiras e nos aproximou de uma "aldeia global". Mas também promoveu uma enorme concentração de poder, tanto em países quanto em corporações. Empresas se tornaram maiores e mais influentes que Estados, determinando políticas públicas, moldando narrativas e redefinindo valores sociais. Um exemplo claro é o movimento “woke”, que, em aliança com globalistas, Big Techs e parte da classe política, tenta impor um novo contrato social em que os valores de minorias se sobrepõem aos da maioria.
O impacto econômico do globalismo também foi severo: regiões inteiras foram varridas do mapa industrial. Cidades como Detroit (EUA) e Barcelona (Espanha) viram seus parques industriais se tornarem ruínas, à medida que a produção migrou para países como China e Vietnã, impulsionada pela lógica de custo. Outros exemplos dramáticos incluem o fechamento em massa de indústrias têxteis na América Latina, substituídas por importações asiáticas, e o colapso do setor agrícola em diversos países africanos, causado pela entrada de alimentos subsidiados de nações desenvolvidas, inviabilizando os pequenos produtores locais. Até mesmo no Brasil, vimos a indústria de transformação perder relevância no PIB, e regiões como o ABC paulista sofrerem uma grave desindustrialização.
No aspecto social, a pandemia de Covid-19 evidenciou a força de organismos supranacionais. A OMS agiu como um "governo global", ditando normas que foram, em grande parte, desastrosas: o uso obrigatório de máscaras (que traumatizou crianças), os lockdowns (que destruíram empresas e empregos), e a aplicação forçada de substâncias de eficácia duvidosa. Todas medidas que se mostraram inócuas e deixaram profundas sequelas.
Dessa forma, acredito que o movimento iniciado por Trump — e que já dava sinais prévios — marca claramente o nascimento de um processo de “desglobalização”.
Cada país buscará, dentro de suas possibilidades, tornar-se autossuficiente naquilo que é essencial: leis, produção, conhecimento, cultura. Isso não significa que os países se isolam, mas sim que um novo pacto global precisará ser construído — um pacto baseado em soberania, trocas comerciais saudáveis e respeito mútuo.
Quanto aos resultados deste novo modelo, ainda é cedo para afirmar.
Mas que ele começou, disso não há a menor dúvida.
De minha parte, não considero negativo o fortalecimento dos Estados Nacionais em detrimento de estruturas globalistas. Afinal, a liberdade individual só pode ser plenamente garantida por meio da cidadania — e esta, por definição, é nacional.
Marx Alexandre C. Gabriel
Consultor de Empresas, Diretor da MB Consultoria, Pecuarista, Mestre em Administração de Empresas, Pós-Graduado em Agronegócio, autor do livro “Direto ao Ponto”.
Parabém por sua coragem de ir contra essa corrente de safados que visam somente os próprios interesses. Concordo plenamente contigo!