As Necessidades dos Clientes – As Empresas Ainda Falham Muito!
- Marx Gabriel

- há 41 minutos
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Em um ambiente empresarial cada vez mais competitivo, hiperconectado e volátil, surpreende observar que uma das maiores fragilidades das organizações continua sendo justamente o que deveria ser sua prioridade absoluta: atender às necessidades mais básicas de seus clientes. Embora discursos sobre foco no cliente, inovação e encantamento estejam presentes em todos os relatórios estratégicos, a prática cotidiana revela um cenário completamente diferente: as empresas continuam falhando no essencial.
Para compreender a gravidade desse fenômeno, vale recorrer a um modelo clássico da psicologia humana: a Pirâmide das Necessidades de Abraham Maslow, que descreve a hierarquia de necessidades fundamentais que todo ser humano possui. Tal como uma pirâmide, seus níveis mais elevados só podem ser alcançados quando os mais básicos estão plenamente atendidos; caso contrário, toda a estrutura se fragiliza.
A mesma lógica se aplica às empresas no relacionamento com seus clientes. Antes de sonhar em “encantar”, fidelizar ou gerar experiências extraordinárias, é indispensável entregar com excelência aquilo que corresponde às suas “necessidades fisiológicas e de segurança”. Ou seja: o básico, o acordado, o mínimo necessário para que a relação exista e continue.
O valor absoluto de atender necessidades: sem cliente, não há negócio
Nenhum modelo de gestão, nenhuma estratégia de marketing, nenhum investimento em tecnologia e nenhuma campanha de marca supera esta verdade simples:
Sem clientes satisfeitos, não existe fluxo de caixa; sem fluxo de caixa, não existe empresa.
Organizações que tratam o cliente como consequência — e não como causa — comprometem sua sobrevivência. A insatisfação pode não aparecer nos relatórios do trimestre, mas destrói reputações, fatia mercado e corrói a confiança. A equação é direta:
Negligência no básico → perda de confiança → perda de receita → perda de relevância.
Em um mundo em que a atenção do consumidor dura poucos segundos, errar no essencial é imperdoável.
A Pirâmide de Maslow: uma metáfora poderosa para o mercado
A teoria proposta por Maslow divide as necessidades humanas em cinco níveis:
1) Fisiológicas: aquilo que garante a sobrevivência do organismo.
2) Segurança: estabilidade, previsibilidade, proteção.
3) Sociais: pertencimento, aceitação, relacionamento.
4) Estima: reconhecimento, valorização, prestígio.
5) Autorrealização: realização plena, sentido, propósito.
A ascensão só ocorre quando o nível anterior está atendido. Não se busca autorrealização com fome, e não se busca estima com medo.
Quando transposta para o universo empresarial, essa hierarquia se torna um mapa valioso para entender por que tantas empresas falham e por que tão poucas encantam.
A adaptação de Maslow às necessidades dos clientes
Necessidades fisiológicas dos clientes
Correspondem ao mínimo indispensável para que a relação de consumo exista:
Atendimento correto.
Informações claras, simples e sem ambiguidades.
Cumprimento básico do que foi prometido.
Produtos ou serviços entregues sem erros elementares.
É o almoço-com-arroz. É o “funcionar como deveria”. É o cliente não precisar insistir, repetir, reclamar, reconfirmar.
Em qualquer setor, isso deveria ser tão natural quanto respirar. Mas não é.
Necessidades de segurança dos clientes
Aqui entra o segundo bloco fundamental:
Receber exatamente o que foi acordado.
Ter previsibilidade, confiabilidade e segurança na entrega.
Não enfrentar surpresas, atrasos ou informações contraditórias.
Não ser enganado por falhas internas.
A segurança é a base da confiança.
E sem confiança, não há fidelidade.
As necessidades superiores: estima e autorrealização
Somente quando fisiologia e segurança estão sólidas é que o cliente pode:
Sentir-se valorizado.
Sentir-se bem tratado.
Reconhecer diferenciais.
Enxergar propósito, valores e identidade na marca.
Passar ao nível do encantamento.
Esta é a “autorrealização” do cliente: quando a marca deixa de ser apenas fornecedora e passa a ocupar um lugar emocional positivo.
Mas — e aqui está a diferença crucial — nenhuma empresa chega a esse nível quando falha no básico.
Exemplos cotidianos: o colapso do básico em pleno século XXI
Infelizmente, as falhas são repetitivas, previsíveis e generalizadas. E chocam pela banalidade.
Redes de drogarias
As maiores do Brasil investem milhões em plataformas, aplicativos, omnichannel e marketing.
Mas o WhatsApp das lojas fica horas, até dias, sem resposta.
O cliente envia seus pedidos, dúvidas, fotos de prescrições — e recebe silêncio.
A tecnologia está lá; o básico não.
Hospitais e laboratórios
Referências nacionais, donos de estruturas caríssimas, oferecem atendimento digital por chatbots.
Mas o cliente não agenda, não remarca, não tira dúvidas.
Recebe respostas automáticas desconexas, lentas, disfuncionais.
Em saúde — onde a segurança deveria ser absoluta — empresas falham no nível mais primitivo.
Hotéis e restaurantes
Criam canais no Instagram, WhatsApp e e-mail — mas não respondem.
O cliente tenta reservar uma mesa, confirmar um horário, consultar disponibilidade, e nada acontece.
Postam fotos diárias, mas ignoram mensagens de interesse real.
Escritórios jurídicos, consultorias empresariais e contábeis
Setores cujo principal ativo é confiança, precisão e aconselhamento.
Mas não respondem no prazo, não registram reuniões adequadamente, não enviam minutas, não acompanham pendências.
O básico — que é disciplina e profissionalismo — é negligenciado.
Todos esses casos ilustram o mesmo ponto: empresas que querem entregar tecnologia, branding, reputação e inovação, mas que não entregam o arroz com feijão.
Inovação não salva empresas que falham no básico
É comum ouvir gestores dizendo:
“Queremos encantar.”
“Queremos surpreender.”
“Queremos ser experiencial.”
Mas nenhum cliente será encantado por uma empresa que:
não responde no WhatsApp;
não cumpre prazos;
não entrega o combinado;
não corrige erros simples;
não treina seus atendentes;
não integra seus canais;
não garante consistência.
A inovação só gera encantamento quando a cadeia de valor entrega o mínimo com excelência.
Antes da inteligência artificial, do CRM sofisticado, do laboratório de inovação, é preciso ter:
disciplina operacional;
cultura de respeito ao cliente;
processos claros;
padrão de execução impecável;
responsabilidade na comunicação;
gente treinada para atender bem.
Conclusão: em tempos líquidos, falhar no básico é perder o cliente para sempre
Vivemos uma era de tempos líquidos, marcada por dispersão, pressa, imediatismo e inúmeros estímulos.
A disputa pela atenção dura poucos segundos.
A paciência do consumidor evapora em minutos.
Por isso, uma experiência ruim, mesmo no detalhe mais simples — uma resposta que não chega, um erro básico no atendimento, uma falha trivial na entrega — fecha a porta para todas as outras iniciativas da empresa.
Clientes não lembram das campanhas, dos eventos, dos slogans, do branding sofisticado.
Mas lembram da frustração gerada por uma falha básica.
E quando isso acontece, não há estratégia que recupere.
O cliente simplesmente vai embora.
E leva consigo sua confiança, seu dinheiro e sua voz — hoje amplificada em redes sociais e grupos de influência.
As empresas que querem crescer precisam entender uma verdade que Maslow já ensinava, e que o mercado comprova diariamente:
Não há autorrealização sem o essencial.
Não há encantamento sem confiabilidade.
Não há inovação que compense negligência.
A base da pirâmide precisa ser sólida.
O resto é consequência.
Marx Alexandre C. Gabriel
Consultor de Empresas, Diretor da MB Consultoria, Conselheiro de Administração, Pecuarista, Mestre em Administração de Empresas, Pós-Graduado em Agronegócio, autor do livro “Direto ao Ponto”.




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