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O Caso Ambipar: o Colapso da Euforia ESG e a Urgência da Boa Governança

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Senhoras e senhores, o caso Ambipar é o retrato de um erro coletivo: a crença cega na ideologia ESG como selo de virtude e sucesso empresarial.


Durante alguns anos, a Ambipar foi tratada como o exemplo do capitalismo verde brasileiro — falava em descarbonização, economia circular e regeneração ambiental.


Recebia selos, prêmios e menções honrosas de instituições que hoje fingem não conhecê-la.


Mas o colapso recente da companhia escancarou a farsa: não há sustentabilidade sem governança, nem ética que sobreviva à maquiagem contábil.


A Euforia do ESG: o Novo Mito Corporativo


O ESG nasceu com uma intenção, talvez legítima — estimular empresas a considerar impactos ambientais, sociais e de governança.


Mas rapidamente se transformou em instrumento ideológico e de marketing, onde o discurso sobre o “E” e o “S” passou a valer mais do que o “G”.


O resultado? Um mercado obcecado por imagem, e cada vez mais cego para a substância.


A Ambipar surfou essa onda como poucas.


As ações chegaram a multiplicar cerca de 900% no ano anterior, impulsionadas pela euforia dos fundos “verdes” e pela avalanche de relatórios ESG.


Foi incluída em carteiras ambientais, recebeu ratings positivos e chegou a se tornar parceira oficial de sustentabilidade da Scuderia Ferrari HP em fevereiro de 2025 — o ápice do glamour ESG.


Em janeiro de 2025, a Standard & Poor’s elevou a perspectiva de risco da companhia de estável para positiva, apontando suposta “solidez do fluxo de caixa e alongamento de dívidas”.


Mas a realidade viria a cobrar seu preço.


Em setembro de 2025, após sucessivos sinais de alerta, a própria S&P rebaixou o rating da Ambipar para CreditWatch Negative, e poucos dias depois o site de relações com investidores da companhia já exibia o rating “D” (default).


Ao mesmo tempo, a B3 anunciou sua exclusão de todos os índices de ações e a revogação do selo de ações verdes, com efeito a partir de 16 de outubro.


O verniz verde começava a rachar.


Os Títulos Que Viraram Pó


A ilusão do ESG teve expressão financeira concreta.


Em 2024, a Ambipar lançou duas debêntures — AMBP16 e EESG13 — que somavam R$ 2,2 bilhões, com vencimento em cinco anos.


Esses papéis, vendidos sob o discurso de “financiamento sustentável”, hoje estão sendo negociados com desvalorização superior a 90%, transformando investimentos institucionais e pessoais em perdas quase totais.


Fundos de renome, como o BB Top RF Arrojado, administrado pela BB Gestão de Recursos, chegaram a deter R$ 70,6 milhões em AMBP16 — valor hoje praticamente nulo.


Estima-se que cerca de R$ 1,7 bilhão dessas debêntures esteja nas mãos de pessoas físicas, fundos de pensão e seguradoras, que acreditaram na narrativa verde e agora contabilizam prejuízos severos.


A derrocada ganhou contornos dramáticos quando a Ambipar entrou em disputa judicial com a Deutsche Bank, após oferecer como garantia de um contrato de swap os próprios green bonds que emitiria.


Com a desvalorização desses títulos, o banco exigiu garantias adicionais.


A empresa, que declarava possuir R$ 4,7 bilhões em caixa, não conseguiu cobrir alguns milhões e correu à Justiça do Rio de Janeiro, obtendo uma liminar para evitar o vencimento antecipado de dívidas que poderiam gerar um rombo de até R$ 10 bilhões.


Logo depois, vieram à tona indícios de que parte desse “caixa robusto” estava aplicado em um FIDC vinculado a partes relacionadas, com movimentações atípicas às vésperas da crise.


O ex-CFO João Daniel Pirran de Arruda, desconfortável com essas operações, procurou a CVM para apresentar sua versão dos fatos, relatando ter sido excluído de decisões estratégicas e não ter participado do aditivo com a Deutsche Bank.


Esses episódios revelaram que o colapso da Ambipar não foi um acidente — foi a consequência natural de uma estrutura onde narrativa e aparência se sobrepuseram à governança e à prudência.


O ESG Como Cortina de Fumaça


O problema não é apenas da Ambipar — é do próprio modelo mental que o mercado passou a idolatrar.


O ESG criou uma ficção de virtude corporativa, onde relatórios bem diagramados valem mais do que balanços consistentes.


Empresas passaram a buscar prêmios e selos em vez de resultados e clientes satisfeitos.


Agências, fundos e instituições lucraram vendendo reputação verde, enquanto ignoravam as bases elementares da boa gestão.


O caso Ambipar expôs esse teatro.


Aparentemente, todos fiscalizavam; na prática, ninguém governava.


E o mercado, encantado pela retórica da sustentabilidade, esqueceu o óbvio:

empresa existe para servir, lucrar e gerar valor — não para posar de salvadora do planeta.


A Função Essencial da Empresa


É hora de reafirmar o que o modismo ESG tentou apagar:


A principal função de uma empresa é atender aos seus clientes com qualidade, gerar lucro que remunere o capital investido e, com isso, permitir o crescimento da organização, a geração de empregos e oportunidades em todo o seu ecossistema.


Quando uma empresa se desvia dessa finalidade e se deixa capturar por narrativas ideológicas, ela perde o rumo.


Lucro, ética e eficiência não são opostos — são os pilares do verdadeiro capitalismo produtivo.


Governança: o Antídoto Contra a Ideologia ESG


O caso Ambipar mostra que o problema do ESG não é o exagero, é a inversão.


O “G”, que deveria ser o centro, virou apêndice.

E sem governança, o “E” e o “S” se tornam instrumentos de manipulação, vaidade e especulação.


A governança corporativa é o que sustenta a credibilidade.


Ela é a base ética e técnica que protege investidores, colaboradores e clientes.


É o que impede que a empresa se transforme num palco de discursos enquanto afunda em práticas temerárias.


Boa governança é o contrário do espetáculo ESG. É controle, transparência, prestação de contas e integridade.


Não é discurso — é conduta.


O Papel da CVM e a Fragilidade Institucional


O caso também expõe a inconsistência do próprio sistema regulatório.


A CVM, que em 20 de março de 2025 havia determinado que a Ambipar realizasse uma oferta pública de aquisição (OPA) por aumento de participação do controlador, viu essa decisão ser revertida pelo colegiado em 29 de julho de 2025.


A mensagem que ficou é perigosa: a leniência institucional ainda protege a aparência em detrimento da verdade.


Governança não é um selo.

É um comportamento.


E esse comportamento começa no topo — no controlador, no conselho, na cultura. Sem ele, o restante é fachada.


O Papel do IBGC: Guardião do Essencial


Neste cenário de confusão conceitual, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) assume papel central.


O IBGC deve ser o farol da racionalidade num mar de ideologias.


É o IBGC que precisa reafirmar o valor da governança empresarial clássica — aquela que protege o capital, a ética e a perenidade das organizações.


O instituto nasceu para preservar princípios, não para aderir a slogans.


Cabe a ele liderar o resgate da governança como disciplina moral e prática executiva, independente de ideologias políticas ou modismos corporativos.


O mercado precisa de menos relatórios ESG e mais empresas governadas com competência, prudência e transparência.


Governança é o que garante que o propósito econômico se cumpra com ética e que o sucesso seja sustentável — não ideológico.


Três Lições Claras do Caso Ambipar

  1. O ESG não substitui a boa gestão.

    Nenhuma empresa se mantém em pé por discursos. É o caixa, a transparência e o controle que sustentam a reputação.


  2. O “E” e o “S” sem o “G” são ideologia, não gestão.

    O meio ambiente e o impacto social importam, mas devem ser consequência de uma gestão ética e lucrativa — não o inverso.


  3. Governança é o único selo que vale.

    O mercado precisa voltar a premiar empresas que geram valor real, não as que produzem relatórios vistosos e vazios.


Conclusão: O Fim da Ilusão ESG


O colapso da Ambipar é mais do que uma crise financeira — é o fim de um encantamento ideológico.


Mostrou que o ESG, quando serve à aparência e não à essência, destrói o que diz proteger.


A verdadeira sustentabilidade não nasce de slogans nem de rankings, mas da boa governança, da transparência e do caráter dos líderes.


Os líderes empresariais têm a missão de conduzir o mercado de volta a esse ponto de equilíbrio — onde ética, lucro e propósito voltam a caminhar juntos.


Governança é a alma do capitalismo ético. O ESG, sem ela, é apenas retórica cara e, como vimos com a Ambipar, desastrosa.


Marx Alexandre C. Gabriel

Consultor de Empresas, Diretor da MB Consultoria, Conselheiro de Administração, Pecuarista, Mestre em Administração de Empresas, Pós-Graduado em Agronegócio, autor do livro “Direto ao Ponto”.

1 comentário


Excelente artigo, Marx! “Direto ao Ponto”, como deve ser, em linha com o que tratamos há algum tempo. Parabéns pela clarear ideias e riqueza de informações.

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