O Vício Legalizado: Apostas Online e o Câncer Socioeconômico no Brasil
- Marx Gabriel
- 2 de out.
- 3 min de leitura
A ascensão meteórica das apostas esportivas online, ou “bets”, transformou a paisagem cultural e econômica do Brasil, impulsionada por uma publicidade agressiva e pela facilidade do acesso digital.
No entanto, por trás da promessa de diversão e lucro, esconde-se uma crise de endividamento e saúde mental que atinge a base da sociedade.
A pesquisa PoderData, realizada em setembro de 2025, expõe a dimensão alarmante desse fenômeno.
⸻
O Retrato da Adesão e do Colapso Financeiro
Os dados da pesquisa são irrefutáveis, demonstrando que o Brasil mergulhou no universo das apostas com consequências financeiras imediatas:
Atingindo Milhões: Cerca de 36% dos brasileiros com 16 anos ou mais declaram ter feito apostas em “bets,” um número que se traduz em aproximadamente 56,1 milhões de pessoas e que cresceu 12 pontos percentuais em apenas um ano.
Pressão sobre o Endividamento: Embora a pesquisa PoderData não traga números específicos sobre dívidas causadas pelas apostas, o crescimento acelerado da base de apostadores indica uma tendência preocupante de impacto financeiro crescente sobre milhões de famílias.
A Concentração da Vulnerabilidade: O perfil mais engajado e, portanto, mais exposto ao risco, é o mais vulnerável: homens (43%), jovens de 16 a 24 anos (43%) e, principalmente, pessoas com renda familiar de até dois salários mínimos (41%).
Embora o mercado tenha sido regulamentado em janeiro de 2025, o governo precisou reconhecer o risco, adotando medidas paliativas como a exigência de mecanismos de autoexclusão e a proibição de apostas para beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família e o BPC.
⸻
O Desvio de Renda e o Custo Social Agravado
O vertiginoso aumento da participação nas apostas não é um acidente, mas uma consequência inerente a um modelo de negócio que se alimenta da vulnerabilidade.
Para a população de baixa renda, a aposta online é falsamente vendida como uma “solução” ou “investimento”, erro de percepção amplificado pela publicidade agressiva.
Risco para a Sobrevivência: O desvio de renda para o jogo está corroendo o poder de compra das famílias. Estudos independentes já apontam que os gastos com “bets” começam a competir com despesas cruciais, como alimentação, lazer e cultura, especialmente nas classes D e E.
A Crise da Saúde Mental: A facilidade de acesso ininterrupto (24 horas por dia) transforma a aposta em um alto risco de dependência (ludopatia), um transtorno psiquiátrico. O ciclo vicioso de perdas e tentativas de recuperação afeta a saúde mental, gerando ansiedade e, em casos extremos, o colapso do núcleo familiar.
⸻
Conclusão: Proibição ou Limitação Drástica – A Única Saída
O mercado de apostas online se consolida, assim, como um verdadeiro câncer no tecido social e econômico do Brasil.
A promessa de arrecadação do Estado tem como contrapartida a destruição financeira de milhões de famílias, um custo humano que nenhum tributo pode compensar.
Os dados são claros: ao dobrar a base de apostadores em apenas um ano e ao focar sua atividade principal nos jovens e nas classes mais pobres, as “bets” exacerbam a desigualdade e a vulnerabilidade social.
O dinheiro que deveria circular na economia real é drenado para plataformas que, embora regulamentadas, mantêm um modelo de negócio intrinsecamente baseado na perda da grande maioria dos apostadores.
Diante da falência das medidas de conscientização e da insuficiência da regulamentação atual para conter a crise, o único caminho que resta é a proibição total das apostas ou, no mínimo, uma mudança drástica na regulação que imponha limitações severas.
Medidas como a restrição maciça da publicidade, a limitação de valores apostados por CPF ou até mesmo a proibição de acesso contínuo (24h) são essenciais.
Permitir que o vício legalizado avance, em nome da arrecadação, significa condenar milhões de brasileiros ao endividamento e à desestabilização social.
É urgente que o Estado passe da tentativa de mitigar o dano para a ação de neutralizar a ameaça.
Marx Alexandre C. Gabriel
Consultor de empresas, empresário, conselheiro de administração e, principalmente, um cidadão indignado com o estado de coisas absurdas que acontecem no Brasil atualmente.
Comentários