A nossa capacidade de se comunicar, ou de criar simbologias específicas, com os nossos semelhantes propiciou a própria sobrevivência. As pinturas nas cavernas do sul da França nos remetem àquela realidade, onde homo sapiens, em grupo, buscavam cavar e tal cena nos mostra de um lado, a tecnologia encontrada por eles para o êxito da cavada, e de outro a própria cognitivo.
O fato é que saímos da caverna, e a tecnologia foi uma alavanca importante para descobrirmos as inúmeras possibilidades da própria existência. Encontramos um mundo real cheio de oportunidades e desafios, e que certamente sedimentou a nossa própria espécie. O entendimento da infinitude interior deslocou o homem para novas terras, novas cavernas e novos desafios, não se bastava. E quando ele descobriu isso tornou-se dono de todas as coisas! Ah o que ele pensava. A história nos deu diversos exemplos de Shakespeare a Hawking - o universo em uma casca de noz, o universo dentro de si. E a tecnologia, mais uma vez, corroborou para essa nova energia vital (Espinoza), passamos a criar e construir a nossa própria realidade. Suficiência nunca mais. Busca infinita.
Mas o nadir existencial veio à tona: também tomamos consciência da finitude exterior, e nesse momento percebemos que o tempo de nossas vidas é completamente independente de nossa vontade. Viramos uma takocracia com menos Kairós e a ditadura do Kronos. Para maximizá-lo, mais uma vez a tecnologia tem nos ajudado a acelerar a nossa existência, ou melhor dizendo a tentativa de frear o tempo.
Conseguimos nos integrar, interoperar e sobretudo virtualizar a vida. De dentro de nossa caverna, criamos outras cavernas, simulamos cavernas e até mesmo vivenciamos cavernas distantes. Antes as pinturas nas paredes, hoje as redes sociais. De forma panóptica vivemos. Precisamos enganar o tempo, mas ele é soberano, e o pior, nos expulsa da caverna, e nos faz encarar uma realidade que, ao contrário do passado, não queremos vivê-la.
E portanto, o choque da desvirtualização é traduzido nos alarmantes índices de suicídio e depressão. Não conseguiremos equalizar, a finitude exterior com a infinitude interior, sendo preciso ter consciência da impossibilidade da completude existencial, e só tem um caminho ditado há pouco mais de 2000 anos.
Acredito que Viktor Frankl quando pensou em propósito, gostaria de dar uma justificativa para o encontro dessa dicotomia da vida. Finito e infinito dentro de um só corpo. A caverna dele era um campo de concentração.
SANDRO BREVAL
Professor da UFAM, Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina. Experiência nas áreas de Finanças, Tecnologia e Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento.
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